terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

TUDO OU NADA



O vício é algo difícil de entender para os que não sofrem com ele.

Terminei de ler a autobiografia do Eric Clapton.
Sempre tive admiração por ele como artista, no entanto só conheço as músicas mais populares e só tenho dois CDs dele: “Reptile” e “Riding With The King” esse último gravado com o mestre B.B. King.
Portanto, não conhecia bem sua conturbada história.
Um dos assuntos que mais me chamaram a atenção na biografia foi o do vício.
Ele foi durante muito tempo usuário do que aparecesse pela frente, no entanto chegou ao fundo do posso por causa do álcool.

Vício segundo o dicionário Houaiss é: “dependência que leva ao consumo irresistível”.
A palavra irresistível é muito comum em nosso vocabulário cotidiano, todos a usamos com freqüência e talvez por isso ela perca um pouco sua força. Sempre falamos e ouvimos: “Esse pudim é irresistível” ou “a praia hoje está irresistível”, porém se for necessário ou se julgarmos ser mais correto na ocasião, não comemos o pudim ou vamos trabalhar ao invés de irmos à praia.
Com freqüência resistimos ao “irresistível”
No caso do vício a palavra irresistível tem que ser entendida ao pé da letra sem aspas.
É uma compulsão quase incontrolável.
É chocante ouvir do próprio autor frases como: “Nos momentos mais baixos da minha vida, o único motivo para não cometer suicídio foi saber que não teria mais como beber se estivesse morto”.
Por muitas vezes no livro fica claro que houve um período em sua vida que a razão de viver era a bebida, como nessa outra frase: “Naquela época, a verdade é que a única coisa sem a qual não conseguia viver era o álcool”.
No caso de Eric Clapton, após ele reconhecer que tinha um problema e depois de algumas tentativas de tratamento em clínicas especializadas ele consegue se recuperar. Na época em que o livro foi lançado ele estava há vinte anos sóbrio. Havia construído uma clínica de recuperação que funciona até hoje (quem tiver curiosidade veja aqui: http://www.crossroadsantigua.org/). No entanto ele afirma que até aquele momento sua prioridade número 1 era, e sempre seria, manter-se sóbrio!

E esse é o ponto que acho mais intrigante.
Sou adepto da cultura do equilíbrio. Geralmente minhas decisões passam pelo fator equilíbrio. Não acredito em dietas radicais em que se corta totalmente um ou outro ingrediente. Não acredito em sistemas políticos em que não se pode ter trabalhando juntas diversas correntes de pensamento. Por sua vez, acredito que qualquer excesso pode fazer mal e, por conseguinte, tudo que não for em excesso tende a não ser prejudicial. Pelo menos na maioria das coisas.
Mas, reconheço que no caso do vício parece ser diferente. Uma das condições unânimes que os especialistas dessa área impõem é a de que os pacientes não podem, de forma alguma e em tempo algum, se aproximar do objeto do vício. Seja ele, álcool, drogas, jogo ou qualquer outro comportamento compulsivo.
Nesse caso, não adianta achar que um alcoólatra poderá um dia beber com moderação, socialmente. Ou seja, ter equilíbrio.
Saber a hora de parar nesses casos parece ser uma tarefa impossível.
Para essas pessoas parece que, infelizmente, é tudo ou nada!
E a abordagem do TUDO OU NADA para quem gosta de fazer de TUDO UM POUCO é bem complicada.

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