quinta-feira, 28 de abril de 2011

O que é sucesso?




Crianças fazem perguntas difíceis de responder. No entanto, as mais difíceis não são aquelas escolares do tipo: Se a terra é redonda como é que não caímos ou o que é a camada de ozônio?
Essas são fáceis. Se soubermos, respondemos na hora, se não soubermos, nada que uma visita rápida ao Google não resolva.
As perguntas mais difíceis são aquelas que não gostamos da resposta. São aquelas que sabemos que será mais um chacoalho na inocência da criança. Respostas que provocam desilusão.
Meu filho Felipe, de 8 anos, me perguntou: “Pai, porque meus amigos não se surpreendem? Toda vez que eu conto alguma coisa legal que aconteceu comigo, eles respondem que já fizeram melhor”.
Essa é uma das difíceis!
Não dá pra simplesmente responder com uma palavra ou frase. É daquelas que pedem uma conversa. Conversa sobre o bicho humano. Conversa que nos leva - os adultos - a refletirmos, e a formularmos novas perguntas.
Porque muitas crianças já têm a cultura de serem melhores do que as outras? Porque não se surpreendem, ou seja, porque não se alegram com o sucesso do outro, independente da conquista ter sido grande ou pequena?
Não há como responder a pergunta que ele me fez, sem passar pelo assunto: pessoas.
Quantas pessoas temos em nossa vida que celebram sinceramente nossas conquistas, aplaudem e se emocionam com nosso sucesso? Não estamos falando de boa educação, de aparências, do politicamente correto ou de interesses. Estamos falando daquelas pessoas que ficam genuinamente felizes de ver o outro bem.
O senso comum diz que os verdadeiros amigos são os que estão do nosso lado nas horas difíceis. Acho que é isso também. Porém nas horas difíceis além da amizade estão presentes outros sentimentos como: solidariedade, compaixão e generosidade. Algumas vezes, nas horas difíceis recebemos apoio, até de desconhecidos.
Entretanto, no sucesso, as coisas são diferentes. Muitos podem aplaudir. Porém podem ser aplausos que escondam algum interesse pessoal naquele sucesso. Aplausos seguidos de comentários como: “Vai saber o que ele fez pra chegar lá”. Ou outros do tipo: “Quero ver o que ele vai fazer agora!”. Em outras palavras, aplausos carregados de críticas ou de inveja.
Portanto, você há de convir, coisas bem difíceis de se conversar com alguém de 8 anos. Alguém que têm nos olhos o brilho da inocência. Alguém que ainda acredita em um mundo que muitos de nós adultos, gostaríamos de ainda acreditar. De repente nos vemos em uma situação triste de sermos portadores de más notícias. Nos vemos na situação de termos de mostrar algo que seria ótimo que não existisse. Seria ótimo um mundo em que todas as pessoas fossem mais amigas, pessoas em que você pudesse confiar. Amigos que querem nosso bem e torcem por nós pelo simples fato de gostarem de nós.
Talvez quando meu filho fez aquela pergunta, já com uma pontinha de tristeza nos olhos, ele tenha sentido pela primeira vez, que ele não poderá confiar em todas as pessoas. Talvez tenha tido uma de suas primeiras desilusões.
Claro que temos que educar nossas crianças para o mundo que está aí, que todos sabemos que não é um conto de fadas e que elas enfrentarão problemas e muitas competições. Porém, o verdadeiro vencedor compete com ele mesmo e sabe reconhecer os talentos e sucessos de outros. Sucesso é encontrar nossos talentos e aplicá-los em nossa vida. É evoluir constantemente e sermos melhores comparando-nos a nós mesmos. A pergunta certa não é se sou o melhor de todos. A pergunta certa é se estou melhor do que eu era ontem, mês passado, ano passado e assim por diante.
Ser o primeiro deveria ser um alvo só dentro das competições esportivas.

A vida é diferente, a vida é muito mais do que isso!

3 comentários:

  1. Acertou em cheio nesse texto... e ele continua chateado com os "amigos".
    Beijos,
    Eu

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  2. O que é mais difícil ser gente grande ou gente pequena?
    Vi esta frase em um blog e achei interessante!
    "Quem dera eu pudesse voltar a ser criança, porque os cotovelos e joelhos ralados curam bem mais rápidos que os corações partidos"

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  3. Infelizmente vamos crescendo e aquela lente cor-de-rosa vai sendo retirada da nossa frente. Mas no fundinho nunca deixamos de acreditar nas pessoas, mesmo sabendo que podemos nos decepcionar lá na frente. E pensando no que vc escreveu, juntando com a frase do William me veio a mente a celebre frase de Che Guevara:
    "Hay que endurecer-se.Pero sin perder la ternura jamás."
    Abraço!
    (Teacher) Rosana

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